quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

“O desafio do Congresso é garantir o debate”, diz Cabral


O deputado federal pernambucano Danilo Cabral declarou, em entrevista ao LeiaJa.com, que o debate das propostas do governo devem ser debatidas com o povo

Divulgação/Assessoria de ImprensaDivulgação/Assessoria de Imprensa
O deputado federal Danilo Cabral (PSB) é categórico ao afirmar que o debate de temas essências para os brasileiros não podem ser feitos sem a participação dos mesmos ressaltando que uma discussão “melindrosa” pode distanciar ainda mais o povo do governo Temer. Em entrevista ao LeiaJa.com, o parlamentar pernambucano também falou sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato pontuando que é necessário cautela. “Eu já vi muita gente sendo condenada publicamente e, depois, as instâncias judiciárias absolveram essas pessoas. Não nos cabe, aqui, fazer qualquer tipo de pré-julgamento, cabe fazer a defesa do papel das instituições”, declarou.
O socialista falou sobre a derrota do colega de bancada Tadeu Alencar, na disputa da liderança do PSB na Câmara. “A líder eleita Tereza Cristina também tem suas qualidades e atributos, agora, o que o resultado mostrou é que de certa forma o que já se sabe: uma certa falta de unidade da nossa bancada”, confessou.
Apesar de falar sobre uma certa fragmentação do partido no estado, Danilo Cabral defendeu o governador Paulo Câmara quando questionado sobre uma avaliação sobre a gestão dele. Para Cabral, Pernambuco se encontra em uma posição “privilegiada” se comparado com a crise enfrentada em outros estados. Ele definiu Câmara como um gestor com “profundo conhecimento da gestão pública”. 
Ainda salientou que tem a convicção de que, na eleição de 2018, o governador terá a aprovação do povo. “Tem gente que cobra do governador uma antecipação do debate eleitoral para discutir a disputa do próximo ano e ele tem dito, e eu concordo, que 2018 vamos discutir em 2018. O que as pessoas esperam neste momento é que dediquemos o melhor das nossas energias para enfrentar os desafios que estão postos em 2017. Tenho a clara convicção de que, lá na frente, vamos ter o reconhecimento de tudo esse esforço”, garantiu. 
Confira a entrevista na íntegra:
LJ - Como o senhor avalia o atual cenário econômico no Brasil?
DC- Eu acho que a gente ainda vai viver um ano 2017 de continuidade deste conjunto de crise que se instalou no Brasil, a partir do final de 2014, e quem vem se aprofundando de lá para cá. O ano de 2016, cronologicamente, terminou, mas, na prática as crises migraram de um ano para o outro. A crise econômica se aprofundou no final de 2016. O Brasil fechou o ano com 12 milhões de pessoas desempregadas e com um crescimento negativo do PIB. Fomos frustrados do ponto de vista da retomada desse crescimento também. Nós vamos continuar, em 2017, ainda, com um ano de crise do ponto de vista da economia. Fala-se, inclusive, na ampliação do número de desempregados. É um ano ainda de muita incerteza. Fala-se que o Brasil voltaria a crescer 2% este ano. Esse número já foi jogado para 2018. 
LJ- E o cenário político?
DC- Ainda há um conjunto de situações que precisam ser discutidas. Até melhorou o ambiente na relação da Câmara, do Congresso institucionalmente falando, restabelecendo o diálogo com o Supremo. Com a eleição do Rodrigo Maia [presidente da Câmara], temos percebido que o ambiente da Casa desarmou-se mais internamente, mas nós temos um desafio que é fazer esse diálogo institucional chegar também à sociedade. A forma em que se deu o conjunto das reformas colocadas aqui em pauta, principalmente, a PEC do Teto dos Gastos e a reforma do ensino médio, que podou a sociedade de participar desse debate. Não dá para fazer reformas que vai mexer na vida das pessoas sem dar oportunidade a elas se manifestarem. O PSB, inclusive, quando decidiu apoiar Rodrigo Maia, à reeleição dele, foi externado em documento entregue de que a gente tivesse a garantia da participação da sociedade. Foi condicionante, para o PSB, estabelecer esse apoio à candidatura do Rodrigo. 
LJ- Como o senhor analisa as pautas que serão votadas neste ano? 
DC- Vamos ter pautas delicadas mais ainda do que vivenciamos, em 2016, como a PEC do Teto dos Gastos, que é algo muito difusa porque as pessoas não sabem onde serão afetadas e que já começaram a ser afetadas. Esta semana mesmo, vimos o anúncio da redução dos valores do financiamento do Fies pelo ministro Mendonça Filho de 7 mil para 5 mil. Isso é decorrente da redução da PEC dos Gastos. As pessoas sabiam que isso ia acontecer, o fato é que começou a acontecer, mas tanto a PEC do Teto dos Gastos como a própria reforma do ensino médio, da reforma da previdência e trabalhista são pontos que vão tocar na vida de todos os brasileiros. A reforma da previdência mexe com todos de forma indistinta. Mexe com o trabalhador urbano, o rural, o profissional liberal, o servidor público, ou seja, há uma verdadeira transformação na vida das pessoas. 
LJ- E qual a sua opinião sobre essas propostas?
DC- Acredito que você não pode fazer isso, simplesmente, sem dar a oportunidade da sociedade participar. Eu entendo que, hoje, esse é o maior desafio do Congresso: garantir o debate. São reformas importantes que precisam, de fato, serem discutidas. Nesse contexto, com a profunda crise, a gente tem que preservar ao máximo as conquistas e a proteção do trabalhador. É essa lógica que orienta nossa atuação aqui. Eu espero que esse debate do Congresso seja feito com a sociedade. 
LJ- Qual a sua posição, o senhor que já foi secretário estadual de Educação, sobre a reforma do ensino médio?
DC- Eu votei contra. Eu entendo que a gente precisa adequar o ensino médio. Pernambuco é o exemplo de que adequou e apresentou resultados. O eixo central foi a política de educação integral. Pernambuco bateu a meta estabelecida no Plano Nacional de Educação de ter 50% dos alunos em educação integral. Essa meta no Brasil foi jogada para 2024 e Pernambuco bateu essa meta tendo 51% dos alunos. Um ponto de questionamento intransponível era o mecanismo de financiamento. Mais uma vez transfere a responsabilidade para o estado sem transferir a fonte de financiamento. Isso para mim é um erro grave colocar a conta para os estados que estão totalmente quebrados. Então, como se vai colocar mais uma conta nas costas do estado sem dizer como vai pagar esta conta? Manifestei-me contra a reforma do ensino também por entender que ela não abriu um diálogo adequado.
Também acho que não deveria ter sido por MP [Medida Provisória]. Se a gente tivesse um projeto de lei, a gente teria oportunidade de também abrir esse debate com os que militam. Com os professores, com a academia, as universidades, os estudantes. Tantas escolas queriam ter o direito de falar e não tiveram. Eu acho que houve um erro da forma como foi conduzido. 
LJ- O senhor acredita em novos protestos, após as ocupações nas escolas e universidades, que marcou o final de 2016?
DC- A preocupação não é nem pontual em torno desse assunto. Eu acho que a pauta, de uma forma geral, que vai levar a sociedade a se mobilizar. Uma pauta que está inquietando a sociedade. Vem a PEC do Teto dos Gastos, da reforma trabalhista e da previdência. A sociedade deve, de alguma forma, se manifestar sobre isso.  
LJ- E onde entra o governo Temer nesse contexto?
DC - Esse cenário de aprofundamento de um debate melindroso do governo Temer da própria sociedade vai distanciar ainda mais o governo dela. Quase 70% das pessoas até desejam uma nova eleição e a pauta não ajudará ele a se aproximar da sociedade.
LJ- Qual sua opinião sobre a Operação Lava Jato? 
DC- Temos a indefinição, digamos assim, das consequências da Operação Lava Jato, que nós defendemos que tem que se aprofundar, garantir o papel de cada Instituição de forma a cumprir a sua tarefa, a Polícia Federal, o Ministério Público, a Justiça de garantir o contraditório, a ampla defesa, que é fundamental porque não se deve fazer pré-julgamento de ninguém até porque eu já vi muita gente sendo condenada publicamente e, depois, as instâncias judiciárias absolveram essas pessoas. Não nos cabe, aqui, fazer qualquer tipo de pré-julgamento, cabe fazer a defesa do papel das instituições.
LJ- Como o senhor vê a derrota do deputado Tadeu Alencar na disputa da liderança do PSB?
DC- Primeiro, tenho que ressaltar que fizemos um debate maduro na bancada. Um debate respeitoso. A líder eleita Tereza Cristina também tem suas qualidades e atributos, agora, o que o resultado mostrou é que de certa forma o que já se sabe. Existe uma certa falta de unidade da nossa bancada. Essa falta de unidade vem desde a morte de Eduardo. Hoje, os Companheiro têm leituras diferentes dos fatos, do papel do estado, ou seja, isso está expresso nas votações da bancada da câmara.
Eu defendo a linha adotada pela direção nacional, que quando deliberou sobre a relação com o governo Temer, tem se manifestado o apoio, mas na direção de que não deveria fazer parte do governo para dar ao PSB mais autonomia na atuação. Não ser membro ou parte do governo não quer dizer que a gente vá ser contra tudo o que vier. A gente tem que ter um debate maduro. De lá para cá, dividimos opiniões dentro do próprio partido. Essa eleição, mais uma vez, refletiu essa fratura que nós temos dentro da bancada desde que morreu Eduardo. 
LJ- Como, então, voltar o fortalecimento?
DC- Nós vamos ter o momento de definições, digamos assim. A gente tem este ano a eleição da nova direção nacional. Essa nova eleição, acho que vai apontar de forma mais clara. Será o fruto de um bom debate, o bom caminho que o PSB vai trilhar até porque nós estaremos já às portas das eleições de 2018. Eu defendo, particularmente, que o PSB apresente um nome para a disputa de 2018. Claro que para isso precede a atualização desse pensamento para que a gente possa falar para a sociedade. Depois você vai definir quem será o porta voz desse pensamento. Esse debate todo, nós vamos fazer e identificar quem pode representar esse pensamento. Lá na frente, quem concordar com esse pensamento continuará dentro do partido. Quem não concordar, deve tomar outro rumo.
LJ- Como analisa o governo Paulo Câmara?
DC- Acredito que é um governo exitoso considerando o conjunto de crises que vive o Brasil e as consequências que a crise está tendo nos estados afora. Diria que Pernambuco se encontra em uma posição privilegiada, repito, nas condições que temos hoje. Claro que não temos o estado que gostaríamos que tivéssemos conseguido materializar muitos dos compromissos ditos em 2014, mas fechamos 2016 com as contas rigorosamente em dia. 
LJ – São necessários ajustes?
DC- Claro que é necessário fazer ajustes, mas temos tido números expressivos em dois anos em várias áreas. Se você considerar contas equilibradas, pagamentos em dia, serviços públicos em funcionamento e comparar isso com o cenário visto afora como no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, enfim, estamos em uma situação melhor que mostra que o governo está fazendo sua tarefa de fazer uma travessia e o governador tem um profundo conhecimento da gestão pública pelo conjunto de experiências que ele teve, inclusive, em três pastas distintas, sendo a última na da Fazenda. Ele tem dedicado sua atenção a essa travessia.
LJ – E como está a discussão para a eleição de 2018?
DC- Tem gente que cobra do governador uma antecipação sobre o debate eleitoral para discutir 2018 e ele tem dito, e eu concordo, que 2018 vamos discutir em 2018. O que as pessoas esperam, neste momento, é que dediquemos o melhor das nossas energias para enfrentar os desafios que estão postos em 2017. Tenho a clara convicção de, que lá na frente, vamos ter o reconhecimento de tudo esse esforço. No momento da manifestação do povo, na eleição, vamos ter a aprovação do governo Paulo Câmara

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